35. CARTA DE PADRE PELANDA


No dia 7 de janeiro de 1914 Pe. Pelanda escreveu ao Superior Geral, na Itália:

Reverendíssimo Padre Superior:
Desde sábado passado encontro-me em Tibagi, onde cheguei muito bem. Devo dizer que meus companheiros rezaram muito por mim e que o Senhor os ouviu, pois, não poderia imaginar uma viagem mais feliz do que esta, de Roma a Tibagi, por mar e por terra.

Em São Paulo se opuseram à minha viagem ao Paraná, pintando-a com cores sombrias, como me descrevera o Pe. Vicentini. Achei-a ao invés relativamente cômoda. Depois de 20 horas de trem cheguei a Castro e me dirigi ao vigário. A acolhida foi cordial e as informaçõesas exatas. Pe. Alexandre ficou hospedado em Castro durante a doença.

No dia seguinte parti com o trole para Tibagi. Com este novo meio de transporte a despesa que me diziam ser de cinqüenta mil réis, ficou reduzida a sete mil. A condição da estrada é péssimia: a viatura realizou prodígios de equilíbrio, os viajantes foram várias vezes revirados e prensados confusamente.

A viagem iniciada à uma da madrugada terminou às cinco da tarde. Foi agradavelmente surpreendente o acolhimento dos meus confrades. Pe. Alexandre chegou a afirmar que faltou pouco para desmaiar.

Esperavam o aviso da minha partida da Itália. Imagine só como ficaram quando vim eu em pessoa dar o aviso da minha partida. Como os encontrei? Pe. Henrique está fora em Missão com Irmão Domingos e voltarão por volta de 22 deste mês. Pe. Ferrúcio está ótimo. Pe. Alexandre tem somente um problema no joelho, onde as feridas cicatrizam-se aos poucos. A articulação está rígida e ele usa bengala. Porém, nestes últimos dias conseguiu ir até o altar, sem benga1a. Vê-se progresso; mantém-se como o vi na Europa, com bom humor e apetite.

Logo que a ferida ficar cicatrizada se submeterá em São Paulo a tratamento elétrico, com o qual se espera possa recuperar também o movimento da articulação. É este o grande desejo que se percebe em São Paulo, Castro e aqui em Tibagi, sendo Pe. Alexandre, em todo lugar, conhecido e estimado por seu grande coração e por suas raras e múltiplas qualidades.

Agora Vossa Reverendíssima gostaria de saber o que faço aqui em Tibagi e porque não fui para o lugar que me designou. Pe. Alexandre, de acordo com Pe. Ferrúcio, achou melhor esperar a volta de Pe. Henrique, o único que conversou com o bispo de Campinas, para resolver o que deverá ser feito. Assim, até dia 22 estarei aqui aproveitando o tempo para uma cavalgada diária de treinamento, um pouco de caça para a mesa e, nas horas vagas, um pouco de português.

No dia 22 faremos o grande conselho, no qual, procurando ater-se às instruções de Vossa Paternidade, se decidirá, de comum acordo, o que fazer.

No entanto aproveito este período de tempo para um tratamento de outono. O clima é justamente como o nosso (outonal), e entre o tratamento do mar e este da terra, acho que minhas condições de saúde estão bem melhores. A respeito da fundação de Tibagi, conheço muito pouco para dar um parecer sensato; porém suficiente para simpatizar-me e crer que não tenham razão aqueles que não admitem que esta possa ser uma "Fundação
Estigmatina". O futuro falará mais claramente.

Neste mês o bispo do Paraná estará em Roma. Seria bom se Vossa Paternidade pudesse conversar com ele; para seu conhecimento o bispo entende italiano; não o fala, mas se faz entender bem em francês.

Apenas seja tomada nossa decisão, no que se refere à nossa distribuição, notificarei Vossa Reverendíssima.

Beijando-lhe a mão e enviando as mais respeitosas saudações, também dos meus confrades, subscrevo-me de Vossa Paternidade
Obedientíssimo e humílimo filho,

Sacerdote João Batista Pelanda.

P. S.- Último Boletim de Pe. Alexandre: o doente neste momento está procurando sua bengala, que não sabe onde deixou. Muito significativo e consolador.