10. TODOS JUNTOS


Depois de quase uma hora pude abraçar e beijar Pe. Alexandre e Ir. Domingos.
- Como vai? Está cansado? Quer jantar? Oh! Encontramos um santo sacerdote, Pe. Faustino Consoni dos Escalabrinianos. Hospedamo-nos em seu orfanato; tratou-nos como irmãos; você verá que delicadeza, que gentileza!

Eu estava atônito. Chegamos ao grande portão de ferro. Um padre veio abrir. Era Pe. Faustino que, mesmo tarde da noite, esperava para me conhecer, saber do que eu precisava, mostrar meu quarto. Pe. Alexandre disse-me baixinho:
- É Pe. Faustino. Beije-lhe a mão, viu?

Assim fiz e pouco depois, estávamos os três, Pe. Alexandre, Ir. Domingos e eu, juntos. Batemos papo quase toda a noite, falando sobre os nossos casos.

Os padres Escalabrinianos estão à frente na cidade de São Paulo, da bela igreja de Santo Antônio, que lhes foi confiada pela família Prates com a anuência do Arcebispo. É uma reitoria. A igreja, ainda que não seja muito grande, é bonita e freqüentadíssima. Por várias razões: por causa do santo Padroeiro; por sua localização, pois está na Praça do Patriarca, centro comercial de São Paulo; pela atenção e disponibilidade dos padres. O reitor é Pe. Marcos Simoni, auxiliado por três sacerdotes da mesma Congregação e por dois irmãos.

Os Escalabrinianos possuem, também, um esplêndido orfanato, no bairro do Ipiranga, local onde no dia 7 de setembro de 1822 foi declarada a Independência do Brasil por dom Pedro. No lugar há um esplêndido monumento, projeto do italiano Ettore Ximenez. O monumento fica diante do Grande Museu de São Paulo, famoso pelos objetos indígenas, mobiliário, armaria, pinturas, ferramentas e outros instrumentos.

Não é fácil descrever o grande bem que fazem estes padres, nos orfanatos, com a direção de Institutos religiosos; nas paróquias, que possuem nos Estados de São Paulo, Paraná. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, na Argentina, e enfim, onde se encontrem italianos, pois são os Missionários dos italianos imigrados.

Pe. Faustino é o padre da caridade. Não só no seu orfanato, mas na cidade de São Paulo também, na casa de Santo Antônio, onde está sempre pronto para receber e ajudar a todos.

Era natural que Pe. Alexandre chegando a São Paulo, se aproximasse do Pe. Faustino e de Pe. Luiz Capra. Pe. Faustino o acolheu com imensa caridade, percebeu a situação em que se encontrava e ofereceu para que permanecesse, com seus companheiros, no orfanato. Deu-lhes comida, pouso e também ofertas para as santas missas. Isso até que se encontrasse um lugar onde fundar uma casa Estigmatina .

Foi tão grande a caridade dos Padres Escalabrinianos para conosco, que não pudemos esquecê-la jamais; se não a tivéssemos tido, talvez não tivesse sido possível fundar a Missão mais tarde e, hoje, nenhum estigmatino estivesse no Brasil. Que o bom Deus recompense mil vezes todo benefício que deles recebemos.

Qual era nossa vida no orfanato? Ajudávamos os padres, celebrando a santa missa ora neste, ora naquele Instituto religioso. Pregávamos em suas igrejas italianas. Estávamos prontos para uma missa cantada solene, ou qualquer festa religiosa. Estudávamos a língua portuguesa. Ajudávamos, especialmente Ir. Domingos, na limpeza da casa, dos pátios. Recordo-me que Ir. Domingos era muito hábil para arrumar as camas dos meninos, e para matar os percevejos que aos milhares se infiltravam nos vãos das tábuas do chão dos dormitórios.

Além disso, cada dia fazíamos nossas reuniões para decidir algo sobre o futuro e planejar a que bispo poderíamos recorrer. Alimentavam-nos grande animação, alegria contínua, esperança em Deus, boa vontade e entusiasmo. Pe. Faustino nos dirigia palavras animadoras. Encantava-nos a gentileza dos padres, com os quais depois do almoço jogávamos uma partida de bocha.

De vez em quando aparecia um missionário que vinha de longe; e nós, admirados, o bombardeávamos de perguntas, ficando sempre com água na boca. Eles nos incentivavam, nos asseguravam que o bom Deus e o Venerável Anchieta, primeiro missionário do Brasil, não permitiriam que dois sacerdotes, jovens e cheios de boa vontade como nós, voltassem para a Itália por não ter encontrado um lugar para trabalhar. O Brasil sempre tivera e tinha grande necessidade de missionários.

Estes pensamentos nos auxiliavam grandemente e nos preparavam para aceitar tudo, e tudo sofrer, a fim de conseguir nosso objetivo, a fundação de uma Missão.