9. PARA SÃO PAULO


Depois da festa da Epifania, o bispo de Mariana faria a visita pastoral em Juiz de Fora. Fui junto com ele, e na estação de Juiz de Fora, à meia-noite, o bispo abençoou-me dizendo:
- Antes de morrer espero ver os Padres da sua Congregação em minha Diocese.

Agradeci, e com o coração amargurado e parti para o Rio de Janeiro. Aprendera a amar o bispo como um santo.

De Mariana ao Rio de Janeiro, a viagem de trem durou dois dias e uma noite. Fiz uma refeição no Hotel Itália, que já conhecia; pedi para me preparar um lanche de pão com queijo, mais uma garrafa de cerveja, e eis-me na estação novamente, de saída para São Paulo, onde imaginava chegar após 48 horas de viagem.

No trem cochilei, mas não dormi; estava tão cansado, que não posso dizer o que vi durante a viagem. Pensava como me fazer entender em São Paulo e se conseguiria encontrar logo Pe. Alexandre e Ir. Domingos. Com o andar do trem minha mente foi tomada por muitos outros pensamentos.

Quando Deus quis, e sem maiores incidentes, cheguei à estação da Luz em São Paulo, e com grande surpresa e prazer, ouvi um jovem carregador que me perguntou:
- Ei, padre; quem te carrega a mala? Quer que eu a leve? Para onde vamos?
- Ó bendito napolitano! Leve a mala e mostre-me o bonde que vai para a Praça do Patriarca, igreja de Santo Antônio. E ele me levou até o ponto do bonde. Esperou que este chegasse e pediu a um senhor, que ia para o mesmo lugar, que me ajudasse. Logo me encontrei à porta dos padres Escalabrinianos. Eles cuidavam da bela igreja de Santo Antonio, que pertencia à família Prates, grande benfeitora dos padres.

Ao Pe. Marcos Simoni, que me abriu a porta, perguntei por Pe. Alexandre, Estigmatino.
- Oh! Caríssimo, respondeu-me. Pe. Alexandre está conosco; sim, sim, caro, entre, entre.

Levou-me ao refeitório e me serviu um pouco de comida e vinho:
- Coma, caro, coma e beba, caro. Você deve estar cansado depois de uma viagem dessas! Oh! Caro! Muito bem, caro.

Eu queria ver logo Pe. Alexandre, antes de começar a comer. Tinha a impressão de não poder engolir nada, tão incontidas eram a emoção, a alegria e o cansaço.
- Coma, caro. Pe. Alexandre está no Ipiranga, no orfanato, caro. Vou chamá-lo imediatamente por telefone; coma, caro, e depois o senhor irá para lá e o encontrará.

Engoli qualquer coisa às pressas e fui ao telefone.
- Sim, Pe. Alexandre. Sou eu mesmo! Como vai? E o Ir. Domingos? O senhor quer noticias? Tenho boas notícias... Eu tomarei logo o bonde e irei. Espere-me no ponto.

Despedi-me de Pe. Marcos, que ainda me repetiu ao menos dez vezes "caro" (era o seu cacoete) e, com um empregado que me acompanhou até a Praça da Sé (Praça da Catedral) tomei o bonde para o Ipiranga. Já era noite avançada e escura.