41. VISITA PASTORAL


No mês de fevereiro de 1923 Pe. João Batista Pelanda deixou a Paróquia de Castro e veio para Rio Claro. Fui chamado para substituí-lo em Castro e tomei posse da paróquia no dia 12 de março. Foi-me confiada pelo Bispo também a administração de Pirai, bela cidadezinha, dependente de Castro, distante meia hora de trem.

Meu primeiro pensamento foi visitar e conhecer os cristãos de Piraí.

Com o auxílio de Pe. Mantovani foi celebrado em Castro o mês de maio da maneira mais solene e com edificante participação do povo. Todos ficaram admirados com a comovente (jamais vista na paróquia) cerimônia da "Coroação da Virgem".

No dia 24 chegou a Castro Pe. Alexandre e permaneceu conosco por quatro meses. Durante sua estadia mostrou suas múltiplas habilidades, sendo admirado por todos. Pregou, compôs música, pintou, entalhou, tornou-se cozinheiro (e que cozinheiro!), mas acima de tudo se fez amar por sua bondade e seu espírito de sacrifício.

No mês de junho celebramos a festa do Sagrado Coração, esplendorosa e com grande concurso de povo. Em julho houve a festa de Santana, Padroeira de Castro. Em setembro, a festa do Espírito Santo, que é a maior festa de Castro. Pe. Alexandre foi o pregador, apreciadíssimo em todas estas festas. Na última, foi executado seu "Veni Creator" a duas vozes pares, com acompanhamento de órgão e violão. A apresentação teve repercussão extraordinária.

Foi o canto do cisne. Terminada a festa ele partiu para Rio Claro, onde era impacientemente esperado por um grande número de antigos admiradores. Da nova casa enviou o adeus a Castro, adeus que lembra o de Lúcia em os "Noivos":

“Adeus, Castro. Terra encantada!
Adeus, ampla extensão de pequenas casas escondidas no verde, dominada pela esguia torre como por um gênio bondoso que vigia tua beleza sonolenta.
Adeus, Proteu multiforme que apresentas sempre um aspecto novo, de cada ponto que o espectador te olhe.
Adeus, moldura imensa de campos avermelhados e verdes florestas.
Adeus, suaves ondulações de colinas, nas quais a Araucária abre em caprichos o guarda-sol.
Adeus, magnífico rio serpeante entre as matas.
Adeus, belas madrugadas coroadas pelo candor das neblinas!
Adeus, crepúsculos sangrentos, projetando reflexos de tristeza e de morte na tranqüilidade das ondas.
Adeus, casa serena, místico cenóbio, que me deste numa cela o mundo todo.
Adeus, adeus!"

No dia 23 de setembro chegou Sua Excelência Dom João Francisco Braga, bispo de Curitiba, para a visita pastoral à Paróquia. Ficou em Castro até o dia 8 de outubro, começando neste dia, acompanhado por mim e por Pe. Cirilo Zadra, a visita às várias capelas da Paróquia. Foi a Socavão, Morros, Lagos, Catanduva e Tronco. Voltou a Castro no dia 19 e partiu dia 22 para Tibagi, berço das nossas fundações sul-americanas, lugar das primeiras lutas, das primeiras lágrimas e dos primeiros triunfos dos Estigmatinos na terra de Santa Cruz.

No dia 27 de dezembro voltou de Tibagi para Castro, de onde tomou o trem para Curitiba. Em nossa Paróquia e Missão fez mais de 40.000 crismas. Gastou três meses para a visita pastoral. Acompanhei o bispo e o considerei ótimo cavaleiro: vi-o dormir no chão sobre pelegos, como nós pobres missionários; satisfazer-se com a comida do povo simples; incansável no sagrado ministério. E uma companhia e conversação verdadeiramente gostosas!

Recordo-me que, muitas tardes, quando eu e Pe. Ferrúcio ou Pe. Mantovani, cansados de confessionário ou de todo o povo (o bispo não crismava ninguém sem que se confessasse antes), sem conseguir segurar os olhos abertos, ele não se cansava de contar fatos jocosos às 10,30 ou 11 da noite!

Uma noite, em Morros, dormiu ele no quarto contíguo ao meu, no meio de abóboras e espigas de milho. Acordei com o barulho que fez atirando seus sapatos contra ratos grandes. Perguntei se precisava de alguma coisa. Ele me disse:
- Não, caro padre, mas aqui há ratazanas que me passam por cima do rosto!

Ao partir de Tibagi, o bispo deixou escrito no livro do Tombo:

"Visita Pastoral, de 23 de setembro a 27 de dezembro 1923. A Paróquia de Castro e Missão de Tibagi estão confiadas aos Padres Estigmatinos, cujo trabalho bem sucedido pudemos verificar. Chegamos a Castro no dia 23 de setembro e em Tibagi à tarde de 21 de outubro.

Nos três meses que durou nossa visita, não nos faltou trabalho. Acompanhados pelo vigário de Castro Pe. Henrique Adami e seu coadjutor Pe. Cirilo Zadra, e em Tibagi por Pe. Morelli e seu ajudante Pe. Ferrúcio, visitamos as capelas de Pirai, Socavão,
Morros, Lagos, Catanduva, Tronco Água Clara, Reserva, Imbu, Herval. Monjolinhos, Queimadas, Patrimônio de Boa Vista, Lajeado Liso, Lajeado Bonito, Imbaú dos Batistas, Vila Preta, Caeté, São Jerônimo, Engenho Coelho, Capela Albino, Jataí, Sabiá, Bairro dos Amaros, Figueiras, Pelame, Colônia d'Anta, Ventania. Quer nas sedes paroquiais, quer em outras localidades, foram numerosas as crismas, as confissões e comunhões, o que prova tanto o louvável zelo dos sacerdotes quando o espírito bom da população.

O zelo dos sacerdotes tem uma particular manifestação no empenho e no esforço que fazem para que, sem contrariar as disposições das leis do casamento civil, o sacramento do matrimônio seja legitimado e santificado, como é rigoroso dever e direito dos católicos. Foi consolador para nós constatar que o povo é bem instruído na matéria e consciencioso de sua observância.

Encontramos também boas disposições no senhor Leopoldo Mercer, vice-prefeito de Tibagi, seja em reconhecer o primitivo direito da Igreja sobre a área na qual está construída a cidade, seja no propósito expresso de examinar, de acordo com o Município, a compra por parte deste último do Patrimônio em questão. Na esperança de ver resolvido este caso, queremos que o Reverendíssimo Pe. Vigário registre tudo quanto está acima no livro do Tombo.

A comunidade estigmatina, a população desta cidade e a paróquia rodearam nossa pessoa de afetuoso e filial tratamento, razão a mais para que no ato da partida renovemos nossa bênção pastoral.
Tibagi, 27 de dezembro de 1923.
+ João, Bispo da Diocese do Paraná.