25. A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA


Uma das conclusões de nossas freqüentes reuniões era a necessidade de comprar um outro cavalo. Apesar do pouco tempo já tínhamos tido a experiência de que somente com dois animais era quase impossível viajar, devido ao que deveria ser transportado para as jornadas de missão. As viagens longas e penosas judiavam não só do cavaleiro, mas muito mais dos animais por causa do esforço que deveriam fazer e do peso que deveriam carregar! Voltavam com as costas em chagas e muito magros. Um terceiro animal cargueiro aliviaria os outros dois e daria mais comodidade para nós.

Decidimos comprar outro cavalo. Encontrei um bom e forte, mas não tão jovem. Era um cavalo que tinha sido usado por muitos anos para corridas. Com oito anos estava aposentado. Depois dos cinco anos, um cavalo não serve mais para corridas. Decidi comprá-lo.

Depois de uma semana o experimentamos.

Pe. Alexandre montava a velha mula, e eu o novo cavalo. Saímos depois do almoço para uma cavalgada. Fomos tranqüilamente em direção ao sul de Tibagi, até uma soberba figueira que ficava no alto. A estrada tinha entre dois ou três metros de largura. Com os barrancos altos ao lado ela parecia uma trincheira.

Em dado momento eu quis experimentar a potência do cavalo. Dei um leve puxão nas rédeas e apenas o toquei com as esporas. Meu Deus! Ele, com um impulso brusco, partiu em desabalada corrida. Parecia voar. Os cavalos de corrida eram todos assim; assim foram acostumados. Cheguei rapidamente à grande figueira, deixando Pe. Alexandre bem para trás. Fiz a volta com o animal que reiniciou outra vertiginosa corrida. Eu ia ao encontro de Pe. Alexandre. A algumas dezenas de metros dele, procurei segurar o animal. Foi impossível ainda que arrebentasse as rédeas.


Ao perceber o perigo gritei a Pe. Alexandre:
- Abra caminho! Abra caminho!

Ele, amedrontado, procurava pôr-se de lado, mas os barrancos eram altos e retos; a mula era lerda. Ao tentar desviar toquei a anca do seu animal com o meu. Este, como uma flecha, bateu violentamente com o peito na garupa da mula, que deu meia volta, lançando Pe. Alexandre a alguns metros. Meu cavalo parou de repente. Dei um grito de susto, temendo ferimento grave em Pe. Alexandre. Ele se levantou ileso. Corri até ele. Nossa Senhora das Dores o salvou!

Olhei para a mula. Estava com a perna posterior levantada, tremendo e suando! Pobre animal! Quebrara a anca! Voltamos devagarzinho para Tibagi assustados e fomos agradecer Nossa Senhora dos Remédios, nossa Padroeira.

Um negro tratou da pobre mula por um mês, mas não conseguiu curá-la. Foi necessário vendê-la por qualquer preço e comprar outra.

Tínhamos estabelecido sair uma vez cada um. Tive sorte. Pe. Alexandre permitiu que eu fizesse a próxima viagem de missão. Era tanto o desejo e o prazer destas viagens que, embora difíceis e penosas sob todos os aspectos eu viajaria sempre e rodaria o sertão durante o ano inteiro.