28. EM COQUEIROS


À tarde cheguei a Coqueiros. Havia muita gente de forma dispersa na região e não se viam casas. A única, mais próxima da igrejinha, distava um quilômetro e meio. Nela nos hospedamos. Pertencia a Pedro Franceschini, um trentino vindo ao Brasil ainda jovem. Era um homenzarrão, alto, gordo e de caráter alegre. Recebeu-nos com grande alegria, com um abraço especial e apertado. Ele se enriquecera no Brasil, e afirmava que passara de folheiro a negociante com honestidade e esforço. Tinha um grande armazém bem abastecido. Ele vendia gado a outros negociantes mais modestos e fazia "negócios da China". Era casado com uma brasileira; não tinha filhos. Tomava conta da igreja e a mantinha sempre limpa, e na medida do possível, fornecida de tudo.

Quando o missionário chegava a sua casa, não o deixava partir antes de três ou quatro dias.
- Nos primeiros dois dias, disse-me, o senhor estará ocupado com o serviço da igreja, com batizados, casamentos e outras atividades; nos outros dias, o senhor estará cansado e sei que não passou bem nas outras casas. Por isso, deverá ficar comigo para descansar e poder viver um pouco como cristão.

Na verdade, sua mesa era farta! Não faltava nada. A comida era preparada ao estilo italiano com entrada seguida de macarronada ou risoto, várias qualidades de carne, preparadas de modos diversos, verduras, queijo italiano, vinho, frutas de muitas espécies e cafezinho com ótima pinga.

Palavra de honra! O missionário ficava à vontade e, sabendo disto, reservava sempre três ou quatro dias para Coqueiro. Pedro Franceschini era, de fato, bom católico. Não deixava de confessar-se e comungar à passagem do sacerdote.

Convidava a todos e até mesmo arrastava para a igreja quem se mostrasse relutante. Se alguém demonstrasse respeito humano no cumprimento do dever de católico, ele sabia como encorajá-lo. Com jeito brincalhão, batia-lhe nas costas, pegava-o por um braço e lhe dizia:
- Venha comigo, nhengo! Não tenha medo.

Era muito procurado para ser padrinho. Por isso, chamava todos de "compadre"; era também testemunha nos casamentos. Possuía verdadeira autoridade sobre quase todos. Havia muitos que foram ajudados por sua caridade com alimento e roupa, ou recebendo dinheiro emprestado sem juros. Naturalmente deveriam ouvir seus conselhos e segui-los.

Toda semana chegavam de Ponta Grossa mulas carregadas de mercadorias para seu armazém. Era conhecidíssimo não só em Ponta Grossa, mas também na capital, Curitiba. Conheceu muitos padres, porque estes se hospedavam em sua casa sendo tratados otimamente.

Ele me deu uma notícia terrível. Dois dias antes, alguns ladrões assaltaram o armazém de seu cunhado, coronel Nazareno, que morava a dois quilômetros. Os vagabundos amordaçaram Nazareno, abriram o cofre, revistaram tudo e roubaram 18 contos de réis. Machucaram o proprietário e o deixaram amordaçado. Pedro me contava isto muito aflito! Ele teria feito de tudo para que isto não acontecesse!

Em Coqueiros fiz 25 batizados, abençoei 7 casamentos; benzi um terreno que deveria servir para cemitério. Depois, segui para Erval, olhando muitas vezes para trás a fim de ver a casa, que jamais encontraria em outro lugar! O Senhor abençoe e conserve Pedro e sua senhora, na santa vida cristã e na perfeita saúde!